Lamentações
Como se acha solitária aquela cidade dantes tão populosa! Tornou-se como viúva a que foi grande entre as nações; e princesa entre as províncias tornou-se tributária! Judá passou ao cativeiro por causa da aflição e por causa da grandeza da sua servidão; habita entre as nações, não acha descanso; todos os seus perseguidores a surpreenderam nas suas angústias os seus adversários a dominaram, os seus inimigos prosperam; porque o Senhor a entristeceu, por causa da multidão das suas prevaricações; os seus filhinhos vão em cativeiro na frente do adversário, lembra-se Jerusalém, nos dias da sua aflição e das suas rebeliões, de todas as suas mais queridas coisas, que tivera dos tempos antigos; quando caía o seu povo na mão do adversário, e ela não tinha quem a socorresse, os adversários a viram e fizeram escárnio da sua queda a sua imundícia está nas suas saias, nunca se lembrou do seu fim; por isso, foi pasmosamente abatida, não tem consolador. Vê Senhor, a minha aflição, porque o inimigo se engrandece estendeu o adversário a sua mão a todas as coisas mais preciosas dela; pois viu entrar no seu santuário as nações acerca das quais mandaste que não entrassem na tua congregação não vos comove isso, a todos vós que passais pelo caminho? Atendei e vede se há dor como a minha dor, que veio sobre mim, com que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira já o jugo das minhas prevaricações está atado pela sua mão; elas estão entretecidas, subiram sobre o meu pescoço, e ele abateu a minha força; entregou-me o Senhor em suas mãos, e eu não posso levantar-me por essas coisas, choro eu; os meus olhos, os meus olhos se desfazem em águas; porque se afastou de mim o consolador que devia restaurar a minha alma; os meus filhos estão desolados, porque prevaleceu o inimigo justo é o Senhor, pois me rebelei contra os seus mandamentos; ouvi, pois, todos os povos e vede a minha dor; as minhas virgens e os meus jovens se foram para o cativeiro chamei os meus amadores, mas eles me enganaram; os meus sacerdotes e os meus anciãos expiraram na cidade, enquanto buscavam para si mantimento, para refrescarem a sua alma ouvem que eu suspiro, mas não tenho quem me console; todos os meus inimigos que souberam do meu mal folgam, porque tu o determinaste; mas, em trazendo tu o dia que apregoaste, serão como eu como cobriu o Senhor de nuvens, na sua ira, a filha de Sião! Derribou do céu à terra a glória de Israel e não se lembrou do escabelo de seus pés, no dia da sua ira cortou, no furor da sua ira, toda a força de Israel; retirou para trás a sua destra de diante do inimigo; e ardeu contra Jacó, como labareda de fogo que tudo consome em redor tornou-se o Senhor como inimigo; devorou Israel, devorou todos os seus palácios, destruiu as suas fortalezas; e multiplicou na filha de Judá a lamentação e a tristeza rejeitou o Senhor o seu altar, detestou o seu santuário; entregou na mão do inimigo os muros dos seus palácios; deram gritos na Casa do Senhor, como em dia de reunião solene abateram as suas portas; ele destruiu e quebrou os seus ferrolhos; o seu rei e os seus príncipes estão entre as nações onde não há lei, nem acham visão alguma do Senhor os seus profetas estão sentados na terra, silenciosos, os anciãos da filha de Sião; lançam pó sobre a sua cabeça, cingiram panos de saco; as virgens de Jerusalém abaixam a sua cabeça até à terra dizem a suas mães: Onde há trigo e vinho? Quando desfalecem como o ferido pelas ruas da cidade, derramando-se a sua alma no regaço de suas mães os teus profetas viram para ti vaidade e loucura e não manifestaram a tua maldade, para afastarem o teu cativeiro; mas viram para ti cargas vãs e motivos de expulsão todos os teus inimigos abrem a boca contra ti, assobiam e rangem os dentes; dizem: Devoramo-la; certamente este é o dia que esperávamos; achamo-lo e vimo-lo o coração deles clamou ao Senhor: Ó muralha da filha de Sião, corram as tuas lágrimas como um ribeiro, de dia e de noite; não te dês descanso, nem parem as meninas de teus olhos levanta-te, clama de noite no princípio das vigílias; derrama o teu coração como águas diante da face do Senhor; levanta a ele as tuas mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à entrada de todas as ruas jazem em terra pelas ruas o moço e o velho; as minhas virgens e os meus jovens vieram a cair à espada; tu os mataste no dia da tua ira; degolaste-os e não te apiedaste deles eu sou o homem que viu a aflição pela vara do seu furor deveras se tornou contra mim; virou contra mim de contínuo, a mão todo o dia edificou contra mim e me cercou de fel e trabalho circunvalou-me, e não posso sair; agravou os meus grilhões circunvalou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas fez-me como urso de emboscada, um leão em esconderijos armou o seu arco, e me pôs como alvo à flecha fui feito um objeto de escárnio para todo o meu povo e a sua canção todo o dia quebrou com pedrinhas de areia os meus dentes; cobriu-me de cinza então, disse eu: Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do fel disso me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade bom é o Senhor para os que se atêm a ele, para a alma que o busca bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade; assentar-se solitário e ficar em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele dê a face ao que o fere; farte-se de afronta, pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias pisar debaixo dos pés todos os presos da terra, subverter o homem no seu pleito, não o veria o Senhor? Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados levantemos o coração juntamente com as mãos para Deus nos céus, dizendo: cobriste-nos de ira e nos perseguiste; mataste, não perdoaste como cisco e rejeitamento, nos puseste no meio dos povos todos os nossos inimigos abriram contra nós a sua boca torrentes de águas derramaram os meus olhos, por causa da destruição da filha do meu povo até que o Senhor atente e veja desde os céus como ave, me caçaram os que são meus inimigos sem causa águas correram sobre a minha cabeça; eu disse: Estou cortado invoquei o teu nome, Senhor, desde a mais profunda cova tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas viste Senhor, a injustiça que me fizeram; julga a minha causa ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus pensamentos contra mim; observa-os ao se assentarem e ao se levantarem; eu sou a sua canção tu lhes darás a recompensa, Senhor, conforme a obra das suas mãos na tua ira os perseguirás, e eles serão desfeitos debaixo dos céus do Senhor como se escureceu o ouro! Como se mudou o ouro fino e bom! Como estão espalhadas as pedras do santuário ao canto de todas as ruas! Até os chacais abaixam o peito, dão de mamar aos seus filhos; mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no deserto os que comiam iguarias delicadas desfalecem nas ruas; os que se criaram em carmesim abraçam o esterco os seus nazireus eram mais alvos do que a neve, eram mais brancos do que o leite, eram mais roxos de corpo do que os rubins, mais polidos do que a safira os mortos à espada mais ditosos são do que os mortos à fome; porque estes se esgotam como traspassados, por falta dos frutos dos campos as mãos das mulheres piedosas cozeram seus próprios filhos; serviram-lhes de alimento na destruição da filha do meu povo não creram os reis da terra, nem todos os moradores do mundo, que entrasse o adversário e o inimigo pelas portas de Jerusalém erram como cegos nas ruas andam contaminados de sangue; de tal sorte que ninguém pode tocar nas suas roupas a ira do Senhor os dividiu; ele nunca mais tornará a olhar para eles; não reverenciaram a face dos sacerdotes, nem se compadeceram dos velhos espiaram os nossos passos, de maneira que não podíamos andar pelas nossas ruas; está chegando o nosso fim, estão cumpridos os nossos dias, porque é vindo o nosso fim os nossos perseguidores foram mais ligeiros do que as aves dos céus; sobre os montes nos perseguiram, no deserto nos armaram ciladas regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz; o cálice chegará também para ti; embebedar-te-ás e te descobrirás lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera e olha para o nosso opróbrio órfãos somos sem pai, nossas mães são como viúvas os nossos perseguidores estão sobre os nossos pescoços; estamos cansados e não temos descanso nossos pais pecaram e já não existem; nós levamos as suas maldades com perigo de nossas vidas, trazemos o nosso pão, por causa da espada do deserto nossa pele se enegreceu como um forno, por causa do ardor da fome os príncipes foram enforcados pelas mãos deles; as faces dos velhos não foram reverenciadas os velhos já não têm assento à porta, os jovens já não cantam caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós, porque pecamos pelo monte de Sião, que está assolado, andam as raposas tu, Senhor, permaneces eternamente, e o teu trono, de geração em geração converte-nos, Senhor, a ti, e nós nos converteremos; renova os nossos dias como dantes continuamente chora de noite, e as suas lágrimas correm pelas suas faces; não tem quem a console entre todos os seus amadores; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela, tornaram-se seus inimigos os caminhos de Sião pranteiam, porque não há quem venha à reunião solene; todas as suas portas estão desoladas; os seus sacerdotes suspiram; as suas virgens estão tristes, e ela mesma tem amargura e da filha de Sião foi-se toda a sua glória; os seus príncipes ficaram sendo como corços que não acham pasto e caminham sem força na frente do perseguidor Jerusalém gravemente pecou; por isso, se fez instável; todos os que a honravam a desprezaram, porque viram a sua nudez; ela também suspirou e voltou para trás todo o seu povo anda suspirando, buscando o pão; deram as suas coisas mais preciosas a troco de mantimento para refrescarem a alma; vê Senhor, e contempla, pois me tornei desprezível desde o alto enviou fogo a meus ossos, o qual se assenhoreou deles; estendeu uma rede aos meus pés, fez-me voltar para trás, fez-me assolada e enferma todo o dia o Senhor atropelou todos os meus valentes no meio de mim; apregoou contra mim um ajuntamento, para quebrantar os meus jovens; o Senhor pisou como em um lagar, a virgem filha de Judá estende Sião as suas mãos, não há quem a console; mandou o Senhor acerca de Jacó que fossem inimigos os que estão em redor dele; Jerusalém é para eles como uma coisa imunda olha Senhor, quanto estou angustiada; turbada está a minha alma, o meu coração está transtornado no meio de mim, porque gravemente me rebelei; fora, me desfilhou a espada, dentro de mim está a morte venha toda a sua iniquidade à tua presença, e faze-lhes como me fizeste a mim por causa de todas as minhas prevaricações; porque os meus suspiros são muitos, e o meu coração está desfalecido devorou o Senhor todas as moradas de Jacó e não se apiedou; derribou no seu furor as fortalezas da filha de Judá e as abateu até à terra; profanou o reino e os seus príncipes armou o seu arco como inimigo firmou a sua destra como adversário e matou tudo o que era formoso à vista; derramou a sua indignação, como fogo na tenda da filha de Sião e arrancou a sua cabana com violência, como se fosse a de uma horta; destruiu a sua congregação; o Senhor, em Sião, pôs em esquecimento a solenidade e o sábado e, na indignação da sua ira, rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote intentou o Senhor destruir o muro da filha de Sião; estendeu o cordel, não retirou a sua mão destruidora; fez gemer o antemuro e o muro; eles estão juntamente enfraquecidos já se consumiram os meus olhos com lágrimas, turbada está a minha alma, o meu coração se derramou pela terra, por causa do quebrantamento da filha do meu povo; pois desfalecem os meninos e as crianças de peito pelas ruas da cidade que testemunho te trarei? A quem te compararei, ó filha de Jerusalém? A quem te assemelharei, para te consolar a ti, ó virgem filha de Sião? Porque grande como o mar é a tua ferida; quem te sarará?Todos os que passam pelo caminho batem palmas, assobiam e meneiam a cabeça sobre a filha de Jerusalém, dizendo: É esta a cidade que denominavam perfeita em formosura, gozo de toda a terra? Fez o Senhor o que intentou; cumpriu a sua palavra, que ordenou desde os dias da antiguidade: derribou e não se apiedou; fez que o inimigo se alegrasse por tua causa, exaltou o poder dos teus adversários vê, ó Senhor, e considera a quem fizeste assim! Hão de as mulheres comer o fruto de si mesmas, as crianças que trazem nos braços? Ou matar-se-á no santuário do Senhor o sacerdote e o profeta?Convocaste de toda parte os meus receios, como em um dia de solenidade; não houve no dia da ira do Senhor quem escapasse ou ficasse; aqueles que trouxe nas mãos e sustentei, o meu inimigo os consumiu ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz fez envelhecer a minha carne e a minha pele, quebrantou os meus ossos assentou-me em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos há muito ainda quando clamo e grito, ele exclui a minha oração desviou os meus caminhos e fez-me em pedaços; deixou-me assolado fez entrar nos meus rins as flechas da sua aljava fartou-me de amarguras, saciou-me de absinto e afastaste da paz a minha alma; esqueci-me do bem minha alma, certamente, se lembra e se abate dentro de mim as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim a minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor ponha a boca no pó; talvez assim haja esperança porque o Senhor não rejeitará para sempre, porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens perverter o direito do homem perante a face do Altíssimo, porventura da boca do Altíssimo não sai o mal e o bem? Esquadrinhemos os nossos caminhos, experimentemo-los e voltemos para o Senhor nós prevaricamos e fomos rebeldes; por isso, tu não perdoaste cobriste-te de nuvens, para que não passe a nossa oração temor e cova vieram sobre nós, assolação e quebrantamento os meus olhos choram e não cessam, porque não há descanso, o meu olho move a minha alma, por causa de todas as filhas da minha cidade arrancaram a minha vida na cova e lançaram pedras sobre mim ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor pleiteaste Senhor, os pleitos da minha alma, remiste a minha vida viste toda a sua vingança, todos os seus pensamentos contra mim os lábios dos que se levantam contra mim e as suas imaginações contra mim todo o dia tu lhes darás ânsia de coração, maldição tua sobre eles os preciosos filhos de Sião, comparáveis a puro ouro, como são, agora, reputados por vasos de barro, obra das mãos do oleiro! A língua do que mama fica pegada pela sede ao seu paladar; os meninos pedem pão, e ninguém lho dá porque maior é a maldade da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, a qual se subverteu como em um momento, sem que trabalhassem nela mãos algumas, mas, agora, escureceu-se o seu parecer mais do que o negrume, não se conhecem nas ruas; a sua pele se lhes pegou aos ossos, secou-se, tornou-se como um pedaço de pau deu o Senhor cumprimento ao seu furor; derramou o ardor da sua ira e acendeu fogo em Sião, que consumiu os seus fundamentos foi por causa dos pecados dos profetas, das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o sangue dos justos no meio dela desviai-vos, bradavam eles. Imundo! Desviai-vos, desviai-vos, não toqueis; quando fugiram e erraram, disseram entre as nações: Nunca mais morarão aqui os nossos olhos desfaleciam, esperando vão socorro; olhávamos atentamente para gente que não pode livrar o respiro das nossas narinas, o ungido do Senhor, foi preso nas suas covas; dele dizíamos: Debaixo da sua sombra viveremos entre as nações o castigo da tua maldade está consumado, ó filha de Sião; ele nunca mais te levará para o cativeiro; ele visitará a tua maldade, ó filha de Edom, descobrirá os teus pecados a nossa herdade passou a estranhos, e as nossas casas, a forasteiros a nossa água por dinheiro a bebemos, por preço vem a nossa lenha os egípcios estendemos as mãos, e aos assírios, para nos fartarem de pão servos dominam sobre nós; ninguém há que nos arranque da sua mão forçaram as mulheres em Sião; as virgens, nas cidades de Judá aos jovens obrigam a moer, e os moços tropeçaram debaixo da lenha cessou o gozo de nosso coração, converteu-se em lamentação a nossa dança por isso, desmaiou o nosso coração; por isso, se escureceram os nossos olhos por que te esquecerias de nós para sempre? Por que nos desampararias por tanto tempo? Por que nos rejeitarias totalmente? Por que te enfurecerias contra nós em tão grande maneira?
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