Jó
Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal e era o seu gado sete mil ovelhas, e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do Oriente sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente então, o Senhor disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela então, respondeu Satanás ao Senhor e disse: Porventura, teme Jó a Deus debalde? Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra e disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor que veio um mensageiro a Jó e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles; estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os moços, e os consumiu; e só eu escapei, para te trazer a nova estando ainda este falando veio outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, e eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei, para te trazer a nova e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor e, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles apresentar-se perante o Senhor e disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, desviando-se do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa estende, porém, a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de ti na tua face! Então, saiu Satanás da presença do Senhor e feriu a Jó de uma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da cabeça então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre mas ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios e, levantando de longe os olhos e não o conhecendo, levantaram a voz e choraram; e rasgando cada um o seu manto, sobre a cabeça lançaram pó ao ar depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem! Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela! Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pestanas dos olhos da alva! Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira por que me receberam os joelhos? E por que os peitos, para que mamasse?.Com os reis e conselheiros da terra que para si edificavam casas nos lugares assolados, ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos; por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu? Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse: Eis que ensinaste a muitos e esforçaste as mãos fracas mas agora a ti te vem, e te enfadas; e, tocando-te a ti, te perturbas lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Com o hálito de Deus perecem; e com o assopro da sua ira se consomem o bramido do leão, e a voz do leão feroz, e os dentes dos leõezinhos se quebrantam uma palavra se me disse em segredo; e os meus ouvidos perceberam um sussurro dela sobreveio-me o espanto e o tremor, e todos os meus ossos estremeceram parou ele, mas não conheci a sua feição; um vulto estava diante dos meus olhos; e, calando-me, ouvi uma voz que dizia: Eis que nos seus servos não confia e nos seus anjos encontra loucura; quanto mais naqueles que habitam em casas de lodo, cujo fundamento está no pó, e são machucados como a traça! Porventura, não passa com eles a sua excelência? Morrem, mas sem sabedoria chama agora; há alguém que te responda? E para qual dos santos te virarás? Bem vi eu o louco lançar raízes; mas logo amaldiçoei a sua habitação a sua messe a devora o faminto, que até dentre os espinhos a tira; e o salteador traga a sua fazenda mas o homem nasce para o trabalho, como as faíscas das brasas se levantam para voar ele faz coisas tão grandiosas, que se não podem esquadrinhar; e tantas maravilhas que se não podem contar ele dá a chuva sobre a terra e envia água sobre os campos, ele aniquila as imaginações dos astutos, para que as suas mãos não possam levar coisa alguma a efeito eles, de dia, encontram as trevas; e, ao meio-dia, andam como de noite, às apalpadelas assim, há esperança para o pobre; e a iniquidade tapa a sua própria boca porque ele faz a chaga, e ele mesmo a liga; ele fere, e as suas mãos curam em seis angústias, te livrará; e, na sétima, o mal te não tocará do açoite da língua estarás abrigado; e não temerás a assolação, quando vier porque até com as pedras do campo terás a tua aliança; e os animais do campo estarão contigo também saberás que se multiplicará a tua semente, e a tua posteridade, como a erva da terra eis que isto já o havemos inquirido, e assim é; ouve-o e medita nisso para teu bem então, Jó respondeu e disse: Porque, na verdade, mais pesada seria do que a areia dos mares; por isso é que as minhas palavras têm sido inconsideradas porventura, zurrará o jumento montês junto à relva? Ou berrará o boi junto ao seu pasto? A minha alma recusa tocar em vossas palavras, pois são como a minha comida fastienta e que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a sua mão, e acabasse comigo! Isto ainda seria a minha consolação e me refrigeraria no meu tormento, não me poupando ele; porque não repulsei as palavras do Santo é porventura, a minha força a força da pedra? Ou é de cobre a minha carne? Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso que estão encobertos com a geada, e neles se esconde a neve desviam-se as caravanas dos seus caminhos; sobem ao vácuo e perecem os caminhantes de Temá os vêem; os passageiros de Sabá olham para eles agora, sois semelhantes a eles; vistes o terror e temestes ou: livrai-me das mãos do opressor? Ou: redimi-me das mãos dos tiranos? Oh! Quão fortes são as palavras da boa razão! Mas que é o que censura a vossa arguição? Mas, antes, lançais sortes sobre o órfão e especulais com o vosso amigo agora, pois, se sois servidos, olhai para mim; e vede se minto em vossa presença há, porventura, iniquidade na minha língua? Ou não poderia o meu paladar dar a entender as minhas misérias? Porventura, não tem o homem guerra sobre a terra? E não são os seus dias como os dias do jornaleiro? Assim me deram por herança meses de vaidade, e noites de trabalho me prepararam a minha carne se tem vestido de bichos e de torrões de pó; a minha pele está gretada e se fez abominável lembra-te de que a minha vida é como o vento; os meus olhos não tornarão a ver o bem tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir nunca mais tornará à sua casa, nem o seu lugar jamais o conhecerá sou eu, porventura, o mar, ou a baleia, para que me ponhas uma guarda? Então, me espantas com sonhos e com visões me assombras; a minha vida abomino, pois não viverei para sempre; retira-te de mim, pois vaidade são os meus dias e cada manhã o visites, e cada momento o proves? Até quando me não deixarás, nem me largarás, até que engula a minha saliva? E por que me não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade? Pois agora me deitarei no pó, e de madrugada me buscarás, e não estarei lá então, respondeu Bildade, o suíta, e disse: Porventura, perverteria Deus o direito, e perverteria o Todo-Poderoso a justiça? Mas, se tu de madrugada buscares a Deus e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia, o teu princípio, na verdade, terá sido pequeno, mas o teu último estado crescerá em extremo porque nós somos de ontem e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra porventura, não te ensinarão eles, e não te falarão, e do seu coração não tirarão razões? Estando ainda na sua verdura, e ainda não cortada, todavia, antes de qualquer outra erva, se seca a sua esperança fica frustrada, e a sua confiança será como a teia de aranha; está sumarento antes que venha o sol, e os seus renovos saem sobre o seu jardim; desaparecendo ele do seu lugar, negá-lo-á este, dizendo: Nunca te vi; eis que este é alegria do seu caminho, e outros brotarão do pó até que de riso te encha a boca, e os teus lábios, de louvor então, Jó respondeu e disse: Se quiser contender com ele, nem a uma de mil coisas lhe poderá responder ele é o que transporta as montanhas, sem que o sintam, e o que, no seu furor, as transtorna; o que fala ao sol, e ele não sai, e sela as estrelas; o que faz a Ursa, e o Órion, e o Sete-estrelo, e as recâmaras do sul o que faz coisas grandes, que se não podem esquadrinhar, e maravilhas tais que se não podem contar eis que arrebata a presa; quem lha fará restituir? Quem lhe dirá: Que fazes? Quanto menos lhe poderei eu responder ou escolher diante dele as minhas palavras! Ainda que chamasse, e ele me respondesse, nem por isso creria que desse ouvidos à minha voz nem me permite respirar; antes, me farta de amarguras quanto às forças, eis que ele é o forte; e, quanto ao juízo, quem me citará com ele? Ainda que perfeito, não estimo a minha alma; desprezo a minha vida matando o açoite de repente, então, se ri da prova dos inocentes e os meus dias são mais velozes do que um corredor; fugiram e nunca viram o bem se eu disser: Eu me esquecerei da minha queixa, mudarei o meu rosto e tomarei alento; receio todas as minhas dores, porque bem sei que me não terás por inocente ainda que me lave com água de neve, e purifique as minhas mãos com sabão, porque ele não é homem, como eu, a quem eu responda, vindo juntamente a juízo tire ele a sua vara de cima de mim, e não me amedronte o seu terror a minha alma tem tédio de minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma parece-te bem que me oprimas, que rejeites o trabalho das tuas mãos e resplandeças sobre o conselho dos ímpios? São os teus dias como os dias do homem? Ou são os teus anos como os anos de um homem bem sabes tu que eu não sou ímpio; todavia, ninguém há que me livre da tua mão peço-te que te lembres de que, como barro, me formaste, e de que ao pó me farás tornar porventura, não me vazaste como leite e como queijo me não coalhaste? Vida e beneficência me concedeste; e o teu cuidado guardou o meu espírito se eu pecar, tu me observas; e da minha iniquidade não me escusarás porque se me exalto, tu me caças como a um leão feroz, e de novo fazes maravilhas contra mim por que, pois, me tiraste da madre? Ah! Se, então, dera o espírito, e olhos nenhuns me vissem! Então, fora como se nunca houvera sido; e desde o ventre seria levado à sepultura! Antes que me vá, para nunca mais voltar, à terra da escuridão e da sombra da morte; então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse: Às tuas mentiras se hão de calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe? Mas, na verdade, prouvera Deus que ele falasse e abrisse os seus lábios contra ti, porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso? Mais comprida é a sua medida do que a terra; e mais larga do que o mar se ele destruir, e encerrar, ou juntar, quem o impedirá? Mas o homem vão é falto de entendimento; sim, o homem nasce como a cria do jumento montês se há iniquidade na tua mão, lança-a para longe de ti e não deixes habitar a injustiça nas tuas tendas, porque te esquecerás dos trabalhos e te lembrarás deles como das águas que já passaram e terás confiança, porque haverá esperança; olharás em volta e repousarás seguro e deitar-te-ás, e ninguém te espantará; muitos acariciarão o teu rosto então, Jó respondeu e disse: Também eu tenho um coração como vós e não vos sou inferior; e quem não sabe tais coisas como estas? Tocha desprezível é, na opinião do que está descansado, aquele que está pronto a tropeçar com os pés mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e às aves dos céus, e elas to farão saber; quem não entende por todas estas coisas que a mão do Senhor fez isto, que está na sua mão a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda carne humana? Com os idosos está a sabedoria, e na abundância de dias, o entendimento eis que ele derriba, e não se reedificará; e a quem ele encerra não se abrirá com ele está a força e a sabedoria; seu é o que erra e o que faz errar solta a atadura dos reis e ata o cinto aos seus lombos aos príncipes leva despojados; aos poderosos transtorna derrama desprezo sobre os príncipes e afrouxa o cinto dos fortes multiplica os povos e os faz perecer; dispersa as nações e de novo as reconduz nas trevas andam às apalpadelas, sem terem luz, e os faz desatinar como ébrios eis que tudo isto viram os meus olhos, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam mas eu falarei ao Todo-Poderoso; e quero defender-me perante Deus tomara que vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria! Porventura, por Deus falareis perversidade e por ele enunciareis mentiras? Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como se zomba de qualquer homem? Certamente, vos repreenderá, se em oculto fizerdes distinção de pessoas as vossas memórias são como a cinza; as vossas alturas, como alturas de lodo por que razão tomaria eu a minha carne com os dentes e poria a minha vida na minha mão? Também isto será a minha salvação, porque o ímpio não virá perante ele eis que já tenho ordenado a minha causa e sei que serei achado justo quem é o que contenderá comigo? Se eu agora me calasse, renderia o espírito desvia a tua mão para longe de mim e não me espante o teu terror quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado porventura, quebrantarás a folha arrebatada pelo vento? E perseguirás o restolho seco? Também pões os meus pés em cepos, e observas todos os meus caminhos, e marcas os sinais dos meus pés, apesar de eu ser como uma coisa podre que se consome e como a veste, a qual rói a traça o homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação e sobre este tal abres os teus olhos, e a mim me fazes entrar em juízo contigo visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e não passará além deles porque há esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos ao cheiro das águas, brotará e dará ramos como a planta mas, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então, onde está? Assim o homem se deita e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará, nem se erguerá de seu sono morrendo o homem, porventura, tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança mas agora contas os meus passos; não estás tu vigilante sobre o meu pecado? E, na verdade, caindo a montanha, desfaz-se; e a rocha se remove do seu lugar as águas gastam as pedras; as cheias afogam o pó da terra; e tu fazes perecer a esperança do homem os seus filhos estão em honra, sem que ele o saiba; ou ficam minguados, sem que ele o perceba; então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse: Arguindo com palavras que de nada servem e com razões que de nada aproveitam? Porque a tua boca declara a tua iniquidade; e tu escolheste a língua dos astutos ės tu, porventura, o primeiro homem que foi nascido? Ou foste gerado antes dos outeiros? Que sabes tu, que nós não saibamos? Que entendes, que não haja em nós? Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai por que te arrebata o teu coração e por que piscas os teus olhos, que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para que fique justo? Quanto mais abominável e corrupto é o homem, que bebe a iniquidade como a água? O que os sábios anunciaram, e o que ouviram de seus pais, e não ocultaram (aos quais somente se dera a terra, e nenhum estranho passou por entre eles): O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém o assolador anda vagueando por pão, dizendo: Onde está? Bem sabe que o dia das trevas lhe está perto, à mão porque estendeu a sua mão contra Deus e contra o Todo-Poderoso se embraveceu porquanto cobriu o rosto com a sua gordura e criou enxúndias nas ilhargas e habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém morava, que estavam a ponto de fazer-se montões de ruínas não escapará das trevas; a chama do fogo secará os seus renovos e, ao assopro da boca de Deus, desaparecerá antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo não reverdecerá porque o ajuntamento dos hipócritas se fará estéril, e o fogo consumirá as tendas do suborno então, respondeu Jó e disse: Porventura, não terão fim estas palavras de vento? Ou que te irrita, para assim responderes? Antes, vos fortaleceria com a minha boca, e a consolação dos meus lábios abrandaria a vossa dor na verdade, agora me molestou; tu assolaste toda a minha companhia na sua ira, me despedaçou, e ele me perseguiu; rangeu os dentes contra mim; aguça o meu adversário os olhos contra mim abrem a boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos e contra mim se ajuntam todos descansado estava eu, porém ele me quebrantou; e pegou-me pelo pescoço e me despedaçou; também me pôs por seu alvo quebranta-me com golpe sobre golpe; arremete contra mim como um valente o meu rosto todo está descorado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte ah! Terra, não cubras o meu sangue; e não haja lugar para o meu clamor! Eis que também, agora, está a minha testemunha no céu, e o meu fiador, nas alturas ah! Se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o filho do homem pelo seu amigo! O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura promete agora, e dá-me um fiador para contigo; quem há que me dê a mão? O que, lisonjeando, fala aos amigos, também os olhos de seus filhos desfalecerão pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos e já todos os meus membros são como a sombra; e o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá crescendo em força mas, na verdade, tornai todos vós e vinde cá; porque sábio nenhum acho entre vós trocaram a noite em dia; a luz está perto do fim, por causa das trevas se à corrupção clamar: tu és meu pai; e aos bichos: vós sois minha mãe e minha irmã; ela descerá até aos ferrolhos do Seol, quando juntamente no pó teremos descanso então, respondeu Bildade, o suíta, e disse: Por que somos tratados como animais, e como imundos aos vossos olhos? Na verdade, a luz dos ímpios se apagará, e a faísca do seu lar não resplandecerá os seus passos firmes se estreitarão, e o seu próprio conselho o derribará o laço o apanhará pelo calcanhar, e prevalecerá contra ele o salteador está escondida debaixo da terra uma corda; e uma armadilha, na vereda o seu poder será faminto, e a destruição está pronta ao seu lado será arrancado da sua tenda, onde estava confiado, e será levado ao rei dos terrores por baixo, se secarão as suas raízes, e, por cima, serão cortados os seus ramos da luz o lançarão nas trevas e afugentá-lo-ão do mundo não terá filho nem neto entre o seu povo, e resto nenhum dele ficará nas suas moradas tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o lugar do que não conhece a Deus respondeu, porém, Jó e disse: Já dez vezes me envergonhastes; vergonha não tendes de contra mim vos endurecerdes se deveras vos levantais contra mim e me arguís pelo meu opróbrio, eis que clamo: Violência! Mas não sou ouvido; grito: Socorro! Mas não há justiça da minha honra me despojou; e tirou-me a coroa da minha cabeça quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore juntas vieram as suas tropas, e prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim chamei a meu criado, e ele me não respondeu; cheguei a suplicar com a minha boca até os rapazes me desprezam, e, levantando-me eu, falam contra mim todos os homens do meu secreto conselho me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou quem me dera, agora, que as minhas palavras se escrevessem! Quem me dera que se gravassem num livro! Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, o meu coração se consome dentro de mim na verdade, que devíeis dizer: Por que o perseguimos? Pois a raiz da acusação se acha em mim então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse: Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá por mim o júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas de um momento? Como o seu próprio esterco perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está? O olho que o viu jamais o verá, nem olhará mais para ele o seu lugar os seus filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restaurarão a sua fazenda ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da sua língua, contudo, a sua comida se mudará nas suas entranhas; fel de áspides será interiormente veneno de áspides sorverá; língua de víbora o matará restituirá o seu trabalho e não o engolirá; conforme o poder de sua mudança, não saltará de gozo, porque oprimiu, desamparou os pobres e roubou a casa que não edificou; nada lhe sobejará para comer; pelo que a sua fazenda não será durável haja, porém, ainda, de que possa encher o seu ventre, e Deus mandará sobre ele o ardor da sua ira e a fará chover sobre ele quando for comer arrancará o dardo do seu corpo, e resplandecente virá do seu fel; e haverá sobre ele assombros os céus manifestarão a sua iniquidade; e a terra se levantará contra ele as rendas de sua casa serão transportadas; no dia da sua ira, todas se derramarão respondeu, porém, Jó e disse: Sofrei-me, e eu falarei; e, havendo eu falado, zombai olhai para mim e pasmai; e ponde a mão sobre a boca, por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder? As suas casas têm paz, sem temor; e a vara de Deus não está sobre eles o seu touro gera e não falha; pare a sua vaca e não aborta levantam a voz ao som do tamboril e da harpa e alegram-se ao som das flautas e, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos vede, porém, que o seu bem não está na mão deles; esteja longe de mim o conselho dos ímpios! Porque são como a palha diante do vento, e como a pragana, que arrebata o redemoinho, Deus guarda a sua violência para os filhos deles, e aos ímpios dá o pago, para que o conheçam porque, que prazer teria na sua casa depois de si, cortando-se-lhe o número dos seus meses? Um morre na força da sua plenitude, estando todo quieto e sossegado e outro morre, ao contrário, na amargura do seu coração, não havendo provado do bem eis que conheço bem os vossos pensamentos; e os maus intentos com que injustamente me fazeis violência porque direis: Onde está a casa do príncipe e onde a tenda em que morava o ímpio? Que o mau é preservado para o dia da destruição e arrebatado no dia do furor? Finalmente, é levado à sepultura e vigia no túmulo como, pois, me consolais em vão? Pois nas vossas respostas só há falsidade então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse: Ou tem o Todo-Poderoso prazer em que tu sejas justo, ou lucro algum em que tu faças perfeitos os teus caminhos? Porventura, não é grande a tua malícia; e sem termo, as tuas iniquidades? Não deste água a beber ao cansado e ao faminto retiveste o pão as viúvas despediste vazias, e os braços dos órfãos foram quebrantados por isso, é que estás cercado de laços, e te perturbou um pavor repentino, porventura, Deus não está na altura dos céus? Olha para a altura das estrelas; quão elevadas estão! As nuvens são o escondedouro dele, para que não veja; e ele passeia pelo circuito dos céus eles foram arrebatados antes do seu tempo; sobre o seu fundamento um dilúvio se derramou ora, ele enchera de bens as suas casas; pelo que, longe de mim o conselho dos ímpios! Os justos o viram e se alegraram, e o inocente escarneceu deles, une-te, pois, a Deus, e tem paz, e, assim, te sobrevirá o bem se te converteres ao Todo-Poderoso, serás edificado; afasta a iniquidade da tua tenda e até o Todo-Poderoso te será por ouro e por prata amontoada tu orarás a ele, e ele te ouvirá; e pagarás os teus votos determinando tu algum negócio, ser-te-á firme, e a luz brilhará em teus caminhos e livrará até ao que não é inocente; sim, ele será libertado pela pureza de tuas mãos respondeu, porém, Jó e disse: Ah! Se eu soubesse que o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal saberia as palavras com que ele me responderia e entenderia o que me dissesse ali, o reto pleitearia com ele, e eu me livraria para sempre do meu juiz se opera à mão esquerda, não o vejo; encobre-se à mão direita, e não o diviso mas ele sabe o meu caminho; prove-me, e sairei como o ouro do preceito de seus lábios nunca me apartei e as palavras da sua boca prezei mais do que o meu alimento porque cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo porque Deus macerou o meu coração, e o Todo-Poderoso me perturbou visto que do Todo-Poderoso se não encobriram os tempos, por que não vêem os seus dias os que o conhecem? Levam o jumento do órfão; tomam em penhor o boi da viúva eis que, como jumentos monteses no deserto, saem à sua obra, madrugando para a presa; o campo raso dá mantimento a eles e aos seus filhos ao nu fazem passar a noite sem roupa, não tendo ele coberta contra o frio ao orfãozinho arrancam do peito e aceitam o penhor do pobre fazem com que os nus vão sem veste e aos famintos tiram as espigas desde as cidades gemem os homens, e a alma dos feridos clama; e, contudo, Deus lho não imputa como loucura de madrugada se levanta o homicida, mata o pobre e necessitado e de noite é como o ladrão nas trevas minam as casas que de dia assinalaram; não conhecem a luz são ligeiros sobre a face das águas; maldita é a sua porção sobre a terra; não voltam pelo caminho das vinhas a secura e o calor desfazem as águas da neve; assim desfará a sepultura aos que pecaram afligem a estéril que não dá à luz e à viúva não fazem bem; se Deus lhes dá descanso, estribam-se nisso; seus olhos, porém, estão nos caminhos deles se agora não é assim, quem me desmentirá e desfará as minhas razões? Então, respondeu Bildade, o suíta, e disse: Porventura, têm número os seus exércitos? E para quem não se levanta a sua luz? Olha, até a lua não resplandece, e as estrelas não são puras aos seus olhos Jó, porém, respondeu e disse: Como aconselhaste aquele que não tinha sabedoria e plenamente lhe fizeste saber a causa, assim como era! Os mortos tremem debaixo das águas com os seus moradores o norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada encobre a face do seu trono e sobre ela estende a sua nuvem marcou um limite à superfície das águas em redor, até aos confins da luz e das trevas com a sua força fende o mar e com o seu entendimento abate a sua soberba eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovão do seu poder? E prosseguindo Jó em sua parábola, disse: Enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus no meu nariz, longe de mim que eu vos justifique; até que eu expire, nunca apartarei de mim a minha sinceridade seja como o ímpio o meu inimigo; e o que se levantar contra mim, como o perverso porventura, Deus ouvirá o seu clamor, sobrevindo-lhe a tribulação? Ou deleitar-se-á no Todo-Poderoso ou invocará a Deus em todo o tempo? Eis que todos vós já vistes isso; por que, pois, vos desvaneceis na vossa vaidade? Se os seus filhos se multiplicarem, será para a espada, e os seus renovos se não fartarão de pão se amontoar prata como pó, e aparelhar vestes como lodo, ele edifica a sua casa como a traça, e como o guarda que faz a cabana rico se deita e não será recolhido; seus olhos abre e ele não será o vento oriental o levará, e ir-se-á; varrê-lo-á com ímpeto do seu lugar cada um baterá contra ele as palmas das mãos e do seu lugar o assobiará na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem o homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte a terra, de onde procede o pão, embaixo é revolvida como por fogo essa vereda, a ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu, Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar quando deu peso ao vento e tomou a medida das águas; então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência e, prosseguindo Jó em sua parábola, disse: Quando fazia resplandecer a sua candeia sobre a minha cabeça, e eu, com a sua luz, caminhava pelas trevas; quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus meninos, em redor de mim; quando saía para a porta da cidade e na praça fazia preparar a minha cadeira os príncipes continham as suas palavras e punham a mão sobre a boca; a voz dos chefes se escondia, e a sua língua se pegava ao seu paladar; porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse cobria-me de justiça, e ela me servia de veste; como manto e diadema era o meu juízo dos necessitados era pai e as causas de que não tinha conhecimento inquiria com diligência; e dizia: no meu ninho expirarei e multiplicarei os meus dias como a areia a minha raiz se estendia junto às águas, e o orvalho fazia assento sobre os meus ramos; ouvindo-me, esperavam e em silêncio atendiam ao meu conselho porque me esperavam como à chuva; e abriam a boca como à chuva tardia se eu escolhia o seu caminho, assentava-me como chefe; e habitava como rei entre as suas tropas, como aquele que consola os que pranteiam mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho de míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra eles como contra um ladrão), bramavam entre os arbustos e ajuntavam-se debaixo das urtigas mas agora sou a sua canção e lhes sirvo de provérbio abominam-me, e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir à direita se levantam os moços; empurram os meus pés e preparam contra mim os seus caminhos de destruição vêm contra mim como por uma grande brecha e revolvem-se entre a assolação e agora derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim pela grande força do meu mal se demudou a minha veste, que, como a gola da minha túnica, me cinge lançou-me na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento destinada a todos os viventes porventura, não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado? O meu íntimo ferve e não está quieto; os dias da aflição me surpreenderam denegrido ando, mas não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro enegreceu-se a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor fiz concerto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem? Porventura, não é a perdição para o perverso, e o desastre, para os que praticam iniquidade? Se andei com vaidade, e se o meu pé se apressou para o engano se os meus passos se desviaram do caminho, e se o meu coração segue os meus olhos, e se às minhas mãos se apegou alguma coisa, se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu andei rondando à porta do meu próximo, então, moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre ela porque é fogo que consome até à perdição e desarraigaria toda a minha renda então, que faria eu quando Deus se levantasse? E, inquirindo a causa, que lhe responderia? Se retive o que os pobres desejavam ou fiz desfalecer os olhos da viúva; (porque desde a minha mocidade cresceu comigo como com seu pai, e o guiei desde o ventre da minha mãe); se a alguém vi perecer por falta de veste e, ao necessitado, por não ter coberta; se eu levantei a mão contra o órfão, porque na porta via a minha ajuda, porque o castigo de Deus era para mim um assombro, e eu não podia suportar a sua grandeza se me alegrei de que era muita a minha fazenda e de que a minha mão tinha alcançado muito; e o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou a minha mão, também isto seria delito pertencente ao juiz; pois assim negaria a Deus, que está em cima (também não deixei pecar o meu paladar, desejando a sua morte com maldição); o estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante trema eu perante uma grande multidão, e o desprezo das famílias me apavore, e eu me cale, e não saia da porta por certo que o levaria sobre o meu ombro, sobre mim o ataria como coroa o número dos meus passos lhe mostraria; como príncipe me chegaria a ele se comi a sua novidade sem dinheiro e sufoquei a alma dos seus donos, então, aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos; porque, não achando que responder, todavia, condenavam a Jó vendo, pois, Eliú que já não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria os grandes não são os sábios, nem os velhos entendem o que é reto pelo que digo: Dai-me ouvidos, e também eu declararei a minha opinião atentando, pois, para vós, eis que nenhum de vós há que possa convencer a Jó, nem que responda às suas razões ora, ele não dirigiu contra mim palavra alguma, nem lhe responderei com as vossas palavras esperei, pois, mas não falais; porque já parastes, e não respondeis mais porque estou cheio de palavras; o meu espírito me constrange eis que o meu ventre é como o mosto, sem respiradouro, e virá a arrebentar como odres novos queira Deus que eu não faça acepção de pessoas, nem use de lisonjas com o homem! Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões e dá ouvidos a todas as minhas palavras as minhas razões sairão da sinceridade do meu coração; e a pura ciência, dos meus lábios se podes, responde-me; dispõe bem as tuas razões e levanta-te eis que não te perturbará o meu terror, nem será pesada sobre ti a minha mão limpo estou, sem transgressão; puro sou; e não tenho culpa eis que ele acha contra mim ocasiões e me considerou como seu inimigo eis que nisto te respondo: Não foste justo; porque maior é Deus do que o homem antes, Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução, para desviar a sua alma da cova e a sua vida, de passar pela espada também na sua cama é com dores castigado, e com a incessante contenda dos seus ossos; desaparece a sua carne a olhos vistos; e os seus ossos, que se não viam, agora aparecem; se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares para declarar ao homem a sua retidão, sua carne se reverdecerá mais do que na sua infância e tornará aos dias da sua juventude olhará para os homens e dirá: Pequei e perverti o direito, o que de nada me aproveitou mas Deus livrou a minha alma de ir para a cova; e a minha vida verá a luz para desviar a sua alma da perdição e o alumiar com a luz dos viventes se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te respondeu mais Eliú e disse: Porque o ouvido prova as palavras como o paladar prova a comida porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito que homem há como Jó, que bebe a zombaria como água? Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus pelo que vós, homens de entendimento, escutai-me: longe de Deus a impiedade, e do Todo-Poderoso, a perversidade! Também, na verdade, Deus não procede impiamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo se ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, se, pois, há em ti entendimento, ouve isto; inclina os ouvidos à voz do meu discurso ou dir-se-á a um rei: Oh! Belial? Ou, aos príncipes: Oh! Ímpios? Quanto menos àquele que não faz acepção da pessoa de príncipes, nem estima o rico mais do que o pobre; porque todos são obra de suas mãos porque os olhos de Deus estão sobre os caminhos de cada um, e ele vê todos os seus passos porque não precisa considerar muito no homem para o fazer ir a juízo diante de Deus ele conhece, pois, as suas obras; de noite, os transtorna, e ficam moídos porquanto se desviaram dele, e não compreenderam nenhum de seus caminhos, para fazer que o clamor do pobre subisse até ele, e que ouvisse o clamor dos aflitos para que o homem hipócrita nunca mais reine, e não haja laços no povo o que não vejo, ensina-mo tu; se fiz alguma maldade, nunca mais a hei de fazer? Os homens de entendimento dirão comigo, e o varão sábio, que me ouvir: Pai meu! Provado seja Jó até ao fim, pelas suas respostas próprias de homens malignos porque ao seu pecado acrescenta a transgressão; entre nós bate as palmas e multiplica contra Deus as suas razões respondeu mais Eliú e disse: Porque disseste: De que te serviria? Que proveito tiraria mais do que do meu pecado? Atenta para os céus e vê; e contempla as mais altas nuvens, que estão mais altas do que tu se fores justo, que lhe darás, ou que receberá da tua mão? Por causa da grandeza da opressão eles clamam; eles clamam por causa do braço dos grandes mas ninguém diz: Onde está Deus, que me fez? Que dá salmos entre a noite? Clamam, porém ele não responde, por causa da arrogância dos maus e quanto ao que disseste, que o não verás, juízo há perante ele; por isso, espera nele logo, Jó em vão abre a sua boca e sem ciência multiplica palavras prosseguiu ainda Eliú e disse: Desde longe repetirei a minha opinião; e ao meu Criador atribuirei a justiça eis que Deus é mui grande; contudo, a ninguém despreza; grande é em força de coração dos justos não tira os seus olhos; antes, com os reis no trono os assenta para sempre, e assim são exaltados então, lhes faz saber a obra deles e as suas transgressões; porquanto prevaleceram nelas e revela isso aos seus ouvidos, para seu ensino, e lhes diz que se convertam da maldade porém, se o não ouvirem, à espada serão passados e expirarão sem conhecimento eles morrem na mocidade, e a sua vida perece entre os sodomitas assim também te desviará da angústia para um lugar espaçoso, em que não há aperto, e as iguarias da tua mesa serão cheias de gordura porquanto há furor, guarda-te de que, porventura, não sejas levado pela tua suficiência, nem te desvie a grandeza do resgate estimaria ele tanto tuas riquezas, ou todos os esforços da tua força, que por isso não estivesses em aperto ?Guarda-te e não te inclines para a iniquidade; porquanto isto escolheste antes que a tua miséria quem lhe pedirá conta do seu caminho, ou quem lhe disse: Tu cometeste maldade? Todos os homens a vêem, e o homem a enxerga de longe porque reúne as gotas das águas que derrama em chuva do seu vapor, a qual as nuvens destilam e gotejam sobre o homem abundantemente eis que estende sobre elas a sua luz e encobre os altos do mar com as mãos encobre a luz e a proíbe de passar por entre elas sobre isto também treme o meu coração e salta do seu lugar ele o envia por debaixo de todos os céus e a sua luz, até aos confins da terra com a sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas que nós não compreendemos ele sela as mãos de todo homem, para que conheçam todos os homens a sua obra das recâmaras do sul sai o pé de vento e, do norte, o frio pelo assopro de Deus, se dá a geada, e as largas águas se endurecem então, ela, segundo o seu prudente conselho, se espalha em roda, para que faça tudo quanto lhe ordena sobre a superfície do mundo habitável; a isto, ó Jó, inclina os teus ouvidos; atende e considera as maravilhas de Deus tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos? Ou estendeste com ele os céus, que estão firmes como espelho fundido? Ensina-nos o que lhe diremos; porque nós nada poderemos pôr em boa ordem, por causa das trevas e agora não se pode ver o sol, que resplandece nos céus; mas, passando o vento e purificando-os ao Todo-Poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça depois disto, o Senhor respondeu a Jó de um redemoinho e disse: Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam? Quando eu pus as nuvens por sua vestidura e, a escuridão, por envolvedouro? Quando passei sobre ele o meu decreto, e lhe pus portas e ferrolhos, ou desde os teus dias deste ordem à madrugada ou mostraste à alva o seu lugar, tudo se modela como o barro sob o selo e se põe como vestes; ou entraste tu até às origens do mar, ou passeaste no mais profundo do abismo? Ou com o teu entendimento chegaste às larguras da terra? Faze-mo saber, se sabes tudo isto onde está o caminho da morada da luz? E, quanto às trevas, onde está o seu lugar, decerto, tu o sabes, porque já então eras nascido, e porque é grande o número dos teus dias! Que eu retenho até ao tempo da angústia, até ao dia da peleja e da guerra? Quem abriu para a inundação um leito e um caminho para os relâmpagos dos trovões, para fartar a terra deserta e assolada e para fazer crescer os renovos da erva? A chuva, porventura, tem pai? Ou quem gera as gotas do orvalho? Quando debaixo de pedras as águas se escondem, e a superfície do abismo se coalha? Ou produzir as constelações a seu tempo e guiar a Ursa com seus filhos? Ou podes levantar a tua voz até às nuvens, para que a abundância das águas te cubra? Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem à mente deu o entendimento? Quem numerará as nuvens pela sabedoria? Ou os odres dos céus, quem os abaixará, porventura, caçarás tu presa para a leoa ou satisfarás a fome dos filhos dos leões, quem prepara para os corvos o seu alimento, quando os seus pintainhos gritam a Deus e andam vagueando, por não terem que comer? Sabes tu o tempo em que as cabras monteses têm os filhos, ou consideraste as dores das cervas? Elas encurvam-se, para terem seus filhos, e lançam de si as suas dores quem despediu livre o jumento montês, e quem soltou as prisões ao jumento bravo, ri-se do arruído da cidade; não ouve os muitos gritos do exator querer-te-á servir o unicórnio ou ficará na tua cavalariça? Ou amarrarás o unicórnio ao rego com uma corda, ou estorroará após ti os vales? Ou te fiarás dele que te torne o que semeaste e o recolha na tua eira? Ele deixa os seus ovos na terra e os aquenta no pó endurece-se para com seus filhos, como se não fossem seus; debalde é seu trabalho, porquanto está sem temor a seu tempo se levanta ao alto; ri-se do cavalo e do que vai montado nele ou darás tu força ao cavalo, ou revestirás o seu pescoço de crinas? Escarva a terra, e folga na sua força, e sai ao encontro dos armados contra ele rangem a aljava, o ferro flamante da lança e o dardo ao soar das buzinas, diz: Eia! E de longe cheira a guerra, e o trovão dos príncipes, e o alarido ou se remonta a águia ao teu mandado e põe no alto o seu ninho? Nas penhas, mora e habita; no cume das penhas, e nos lugares seguros seus filhos chupam o sangue; e onde há mortos, ela aí está respondeu mais o Senhor a Jó e disse: Então, Jó respondeu ao Senhor e disse: Uma vez tenho falado e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei, cinge agora os teus lombos como varão; eu te perguntarei a ti, e tu me responderás ou tens braço como Deus, ou podes trovejar com voz como a sua? Orna-te, pois, de excelência e alteza; e veste-te de majestade e de glória olha para todo soberbo, e humilha-o, e atropela os ímpios no seu lugar então, também eu de ti confessarei que a tua mão direita te haverá livrado eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder, nos músculos do seu ventre os seus ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro ele é obra-prima dos caminhos de Deus; o que o fez o proveu da sua espada deita-se debaixo das árvores sombrias, no esconderijo dos canaviais e da lama eis que um rio trasborda, e ele não se apressa, confiando que o Jordão possa entrar na sua boca poderás pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua língua com a corda? Porventura, multiplicará as suas suplicações para contigo? Ou brandamente te falará? Brincarás com ele, como se fora um passarinho, ou o prenderás para tuas meninas? Encherás a sua pele de ganchos, ou a sua cabeça de arpéus de pescadores? Eis que a sua esperança falhará; porventura, nenhum à sua vista será derribado? Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva; quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim? Não me calarei a respeito dos seus membros, nem da relação das suas forças, nem da graça da sua compostura quem abriria as portas do seu rosto? Pois em roda dos seus dentes está o terror uma à outra se chega tão perto, que nem um assopro passa por entre elas cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pestanas da alva da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela o seu hálito faz acender os carvões; e da sua boca sai chama os músculos da sua carne estão pegados entre si; cada um está firme nele, e nenhum se move levantando-se ele, tremem os valentes; em razão dos seus abalos, ficam fora de si ele reputa o ferro palha, e o cobre, pau podre a seta o não fará fugir; as pedras das fundas se lhe tornam em restolho debaixo de si tem conchas pontiagudas; estende-se sobre coisas pontiagudas como na lama após ele alumia o caminho; parece o abismo tornado em brancura de cãs todo o alto vê; é rei sobre todos os filhos de animais altivos então, respondeu Jó ao Senhor e disse: Quem é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso, falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos sucedeu, pois, que, acabando o Senhor de dizer a Jó aquelas palavras, o Senhor disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó então, foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de Jó e o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía e, assim, abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; porque teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas e chamou o nome da primeira, Jemima, e o nome da outra, Quezia, e o nome da terceira, Quéren-Hapuque e, depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração e nasceram-lhe sete filhos e três filhas e iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles e vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles e disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face! E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa de seu irmão primogênito, e eis que deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos moços feriram ao fio da espada; e eu somente escapei, para te trazer a nova estando ainda este falando, veio outro e disse: Ordenando os caldeus três bandos, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos moços feriram ao fio da espada; e só eu escapei, para te trazer a nova então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma então, o Senhor disse a Satanás: De onde vens? E respondeu Satanás ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela então, Satanás respondeu ao Senhor e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida e disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está na tua mão; poupa, porém, a sua vida e Jó, tomando um pedaço de telha para raspar com ele as feridas, assentou-se no meio da cinza ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, vieram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita; e concertaram juntamente virem condoer-se dele e consolá-lo e se assentaram juntamente com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande e Jó, falando, disse: Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz! A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses! Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei? Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e, então, haveria repouso para mim, ou com os príncipes que tinham ouro, que enchiam as suas casas de prata; ali, os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo, que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura? Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderá conter as palavras? As tuas palavras levantaram os que tropeçavam, e os joelhos desfalecentes fortificaste porventura, não era o teu temor de Deus a tua confiança, e a tua esperança, a sinceridade dos teus caminhos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso mesmo perece o leão velho, porque não há presa, e os filhos da leoa andam dispersos entre pensamentos de visões da noite, quando cai sobre os homens o sono profundo, então, um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos da minha carne; seria, porventura, o homem mais justo do que Deus? Seria, porventura, o varão mais puro do que o seu Criador? Desde de manhã até à tarde são despedaçados; e eternamente perecem, sem que disso se faça caso porque a ira destrói o louco; e o zelo mata o tolo seus filhos estão longe da salvação; e são despedaçados às portas, e não há quem os livre porque do pó não procede a aflição, nem da terra brota o trabalho mas quanto a mim eu buscaria a Deus, e a ele dirigiria a minha fala para pôr os abatidos num lugar alto; e para que os enlutados se exaltem na salvação, Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho dos perversos se precipita mas ao necessitado livra da espada da sua boca, e da mão do forte eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga; não desprezes, pois, o castigo do Todo-Poderoso na fome, te livrará da morte; e, na guerra, da violência da espada da assolação e da fome te rirás; e os animais da terra não temerás e saberás que a tua tenda está em paz; e visitarás a tua habitação, e nada te faltará na velhice virás à sepultura, como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo oh! Se a minha mágoa retamente se pesasse, e a minha miséria juntamente se pusesse numa balança! Porque as flechas do Todo-Poderoso estão em mim, e o seu ardente veneno, o bebe o meu espírito; os terrores de Deus se armam contra mim ou comer-se-á sem sal o que é insípido? Ou haverá gosto na clara do ovo? Quem dera que se cumprisse o meu desejo, e que Deus me desse o que espero! Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o meu fim, para que prolongue a minha vida? Está em mim a minha ajuda? Não me desamparou todo auxílio eficaz? Meus irmãos aleivosamente me trataram; são como um ribeiro, como a torrente dos ribeiros que passam, no tempo em que se derretem com o calor, se desfazem; e, em se aquentando, desaparecem do seu lugar foram envergonhados por terem confiado; e, chegando ali, se confundem disse-vos eu: dai-me ou oferecei-me da vossa fazenda presentes? Ensinai-me, e eu me calarei; e dai-me a entender em que errei porventura, buscareis palavras para me repreenderdes, visto que as razões do desesperado são como vento? Voltai, pois, não haja iniquidade; voltai, sim, que a minha causa é justa como o cervo que suspira pela sombra, e como o jornaleiro que espera pela sua paga, deitando-me a dormir, então, digo: quando me levantarei? Mas comprida é a noite, e farto-me de me voltar na cama até à alva os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão e perecem sem esperança os olhos dos que agora me vêem não me verão mais; os teus olhos estarão sobre mim, mas não serei mais por isso, não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito; queixar-me-ei na amargura da minha alma dizendo eu: Consolar-me-á a minha cama, meu leito aliviará a minha ânsia! Pelo que a minha alma escolheria, antes, a estrangulação; e, antes, a morte do que estes meus ossos que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas sobre ele o teu coração, se pequei, que te farei, ó Guarda dos homens? Por que fizeste de mim um alvo para ti, para que a mim mesmo me seja pesado? Até quando falarás tais coisas, e as razões da tua boca serão qual vento impetuoso? Se teus filhos pecaram contra ele, também ele os lançou na mão da sua transgressão se fores puro e reto, certamente, logo despertará por ti e restaurará a morada da tua justiça porque, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas e prepara-te para a inquirição de seus pais porventura, sobe o junco sem lodo? Ou cresce a espadana sem água? Assim são as veredas de todos quantos se esquecem de Deus; e a esperança do hipócrita perecerá encostar-se-á à sua casa, e ela não se terá firme; ampará-la-á, e ela não ficará em pé; as suas raízes se entrelaçam junto à fonte; para o pedregal atenta; eis que Deus não rejeitará ao reto; nem toma pela mão aos malfeitores; teus aborrecedores se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais na verdade sei que assim é; porque como se justificaria o homem para com Deus? Ele é sábio de coração, poderoso em forças; quem se endureceu contra ele e teve paz? O que remove a terra do seu lugar, e as suas colunas estremecem; o que sozinho estende os céus e anda sobre os altos do mar; eis que passa por diante de mim, e não o vejo; e torna a passar perante mim, e não o sinto, Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos a ele, ainda que eu fosse justo, lhe não responderia; antes, ao meu juiz pediria misericórdia porque me quebranta com uma tempestade, e multiplica as minhas chagas sem causa se eu me justificar, a minha boca me condenará; se reto me disser, então, me declarará perverso a coisa é esta; por isso, eu digo que ele consome ao reto e ao ímpio a terra é entregue às mãos do ímpio; Deus cobre o rosto dos juízes; se não é ele, quem é, logo? Passam como navios veleiros, como águia que se lança à comida e, sendo eu ímpio, por que trabalharei em vão? Mesmo assim me submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me abominarão não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos então, falarei e não o temerei; porque, assim, não estou em mim direi a Deus: não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo tens tu, porventura, olhos de carne? Vês tu como vê o homem? Para te informares da minha iniquidade e averiguares o meu pecado? As tuas mãos me fizeram e me entreteceram; e, todavia, me consomes de pele e carne me vestiste e de ossos e nervos me entreteceste mas estas coisas as ocultaste no teu coração; bem sei eu que isto esteve contigo se for ímpio, ai de mim! E se for justo, não levantarei a cabeça; cheio estou de ignomínia e olho para a minha miséria tu renovas contra mim as tuas testemunhas e multiplicas contra mim a tua ira; reveses e combate estão comigo porventura, não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me para que por um pouco eu tome alento; terra escuríssima, como a mesma escuridão, terra da sombra da morte e sem ordem alguma, e onde a luz é como a escuridão porventura, não se dará resposta à multidão de palavras? E o homem falador será justificado? Pois tu disseste: A minha doutrina é pura; limpo sou aos teus olhos e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Porque ele conhece os homens vãos e vê o vício; e não o terá em consideração? Se tu preparaste o teu coração, estende as tuas mãos para ele; porque, então, o teu rosto levantarás sem mácula; e estarás firme e não temerás e a tua vida mais clara se levantará do que o meio-dia; ainda que haja trevas, será como a manhã mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e perecerá o seu refúgio; e a sua esperança será o expirar da alma na verdade, que só vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria eu sou irrisão para os meus amigos; eu, que invoco a Deus, e ele me responde; o justo e o reto servem de irrisão as tendas dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estão seguros; nas suas mãos Deus lhes põe tudo ou fala com a terra, e ela to ensinará; até os peixes do mar to contarão porventura, o ouvido não provará as palavras, como o paladar prova as comidas? Com ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimento tem eis que ele retém as águas, e se secam; e as larga, e transtornam a terra aos conselheiros leva despojados e aos juízes faz desvairar aos confiados tira a fala e toma o entendimento aos velhos as profundezas das trevas manifesta e a sombra da morte traz à luz tira o coração aos chefes dos povos da terra e os faz vaguear pelos desertos, sem caminho como vós o sabeis, o sei eu também; não vos sou inferior vós, porém, sois inventores de mentiras e vós todos, médicos que não valem nada ouvi agora a minha defesa e escutai os argumentos dos meus lábios fareis aceitação da sua pessoa? Contendereis por Deus? Porventura, não vos espantará a sua alteza? E não cairá sobre vós o seu temor? Calai-vos perante mim, e falarei eu; e venha sobre mim o que vier ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo, os meus caminhos defenderei diante dele ouvi com atenção as minhas razões; e com os vossos ouvidos, a minha demonstração duas coisas somente faze comigo; então, me não esconderei do teu rosto: Chama, pois, e eu responderei; ou, eu falarei e tu, responde-me por que escondes o teu rosto e me tens por teu inimigo? Por que escreves contra mim coisas amargas e me fazes herdar as culpas da minha mocidade? Sai como a flor e se seca; foge também como a sombra e não permanece (Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!) desvia-te dele, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha contentamento no seu dia se envelhecer na terra a sua raiz, e morrer o seu tronco no pó, como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota e fica seco, tomara que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se desviasse, e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim! Chamar-me-ias, e eu te responderia; afeiçoa-te à obra de tuas mãos a minha transgressão está selada num saco, e amontoas as minhas iniquidades tu para sempre prevaleces contra ele, e ele passa; tu, mudando o seu rosto, o despedes mas a sua carne, nele, tem dores; e a sua alma, nele, lamenta porventura, dará o sábio, em resposta, ciência de vento? E encherá o seu ventre de vento oriental, e tu tens feito vão o temor e diminuis os rogos diante de Deus a tua boca te condena, e não eu; e os teus lábios testificam contra ti ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti somente limitaste a sabedoria? Porventura, as consolações de Deus te são pequenas? Ou alguma coisa se oculta em ti? Para virares contra Deus o teu espírito e deixares sair tais palavras da tua boca? Eis que nos seus santos não confiaria, e nem os céus são puros aos seus olhos escuta-me, e mostrar-to-ei; e o que vi te contarei; todos os dias o ímpio se dá pena a si mesmo, no curto número de anos que se reservam para o tirano não crê que tornará das trevas, mas que o espera a espada assombram-no a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como o rei preparado para a peleja arremete contra ele com dura cerviz e com os pontos grossos dos seus escudos não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazenda, nem se estenderão pela terra as suas possessões não confie, pois, na vaidade enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa sacudirá as suas uvas verdes, como as da vide, e deixará cair a sua flor como a da oliveira concebem o trabalho e produzem a iniquidade; e o seu ventre prepara enganos tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma? Ou amontoaria palavras contra vós e menearia contra vós a minha cabeça? Se eu falar, a minha dor não cessa; e, calando-me, qual é o meu alívio? Testemunha disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza já se levanta contra mim e no meu rosto testifica contra mim entrega-me Deus ao perverso e nas mãos dos ímpios me faz cair cercam-me os seus flecheiros; atravessa-me os rins e não me poupa; e o meu fel derrama pela terra cosi sobre a minha pele o cilício e revolvi a minha cabeça no pó apesar de não haver violência nas minhas mãos e de ser pura a minha oração os meus amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus porque, decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde não tornarei porventura, não estão zombadores comigo? E os meus olhos não contemplam as suas amarguras? Porque ao seu coração encobriste o entendimento, pelo que não os exaltarás mas a mim me pôs por um provérbio dos povos, de modo que me tornei uma abominação para eles os retos pasmarão disto, e o inocente se levantará contra o hipócrita os meus dias passaram, e malograram-se os meus propósitos, as aspirações do meu coração se eu olhar a sepultura como a minha casa; se nas trevas estender a minha cama; onde estaria, então, agora, a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver? Até quando usareis artifícios em vez de palavras? Considerai bem, e, então, falaremos ó tu, que despedaças a tua alma na tua ira, será a terra deixada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar? A luz se escurecerá nas suas tendas, e sua lâmpada sobre ele se apagará porque por seus próprios pés é lançado na rede e andará nos fios enredados os assombros o espantarão em redor e o farão correr de uma parte para a outra, por onde quer que apresse os passos ela devorará os membros do seu corpo; sim, o primogênito da morte devorará os seus membros morará na sua tenda aquele que nada lhe era; espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação a sua memória perecerá na terra, e pelas praças não terá nome do seu dia se espantarão os vindouros, e os antigos serão sobressaltados de horror até quando entristecereis a minha alma e me quebrantareis com palavras? Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro sabei agora que Deus é que me transtornou e com a sua rede me cercou o meu caminho ele entrincheirou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas e fez inflamar contra mim a sua ira e me reputou para consigo como um de seus inimigos pôs longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem deveras me estranharam os meus domésticos e as minhas servas me reputaram como um estranho; vim a ser um estrangeiro aos seus olhos o meu bafo se fez estranho a minha mulher; e a minha súplica, aos filhos do meu corpo os meus ossos se apegaram à minha pele e à minha carne, e escapei só com a pele dos meus dentes por que me perseguis assim como Deus, e da minha carne vos não fartais? E que, com pena de ferro e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha! E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus temei vós mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da espada, para saberdes que há um juízo visto que os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso porventura, não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra, ainda que a sua altura suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens, como um sonho, voa, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite os seus ossos estão cheios do vigor da sua juventude, mas deitar-se-ão com ele no pó e o guarde, e o não deixe, antes, o retenha no seu paladar, engoliu fazendas, mas vomitá-las-á; do seu ventre, Deus as lançará não verá as correntes, os rios e os ribeiros de mel e manteiga porquanto não sentiu sossego no seu ventre, da sua tão desejada fazenda coisa nenhuma reterá sendo plena a sua abastança, estará angustiado; toda a mão dos miseráveis virá sobre ele ainda que fuja das armas de ferro, o arco de aço o atravessará toda a escuridão se ocultará nos seus esconderijos; um fogo não assoprado o consumirá, e devorará o que ficar na sua tenda esta, da parte de Deus, é a porção do homem ímpio; esta é a herança que Deus lhe reserva ouvi atentamente as minhas razões; e isto vos sirva de consolação porventura, eu me queixo a algum homem? Mas, ainda que assim fosse, por que se não angustiaria o meu espírito? Porque, quando me lembro disto, me perturbo, e a minha carne é sobressaltada de horror a sua semente se estabelece com eles perante a sua face; e os seus renovos, perante os seus olhos fazem sair as suas crianças como a um rebanho, e seus filhos andam saltando na prosperidade gastam os seus dias e num momento descem à sepultura quem é o Todo-Poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações? Quantas vezes sucede que se apaga a candeia dos ímpios, e lhes sobrevém a sua destruição? E Deus, na sua ira, lhes reparte dores! Seus olhos vêem a sua ruína, e ele bebe do furor do Todo-Poderoso porventura, a Deus se ensinaria ciência, a ele que julga os excelsos? Os seus baldes estão cheios de leite, e os seus ossos estão regados de tutanos juntamente jazem no pó, e os bichos os cobrem porventura, o não perguntastes aos que passam pelo caminho e não conheceis os seus sinais? Quem acusará diante dele o seu caminho? E quem lhe dará o pago do que faz? Os torrões do vale lhe são doces, e ele arrasta após si a todos os homens; e antes dele havia inumeráveis porventura, o homem será de algum proveito a Deus? Antes, a si mesmo o prudente será proveitoso ou te repreende pelo temor que tem de ti, ou entra contigo em juízo? Porque penhoraste a teus irmãos sem causa alguma e aos nus despojaste das vestes mas para o violento era a terra, e o homem tido em respeito habitava nela ou trevas, em que nada vês; e a abundância de águas te cobre e dizes: Que sabe Deus disto? Porventura, julgará por entre a escuridão? Porventura, consideraste a vereda do século passado, que pisaram os homens iníquos? Diziam a Deus: Retira-te de nós. E: Que foi que o Todo-Poderoso nos fez? Dizendo: Na verdade, os ímpios foram destruídos, e o fogo consumiu o resto deles aceita, peço-te, a lei da sua boca e põe as suas palavras no teu coração então, amontoarás ouro como pó e o ouro de Ofir, como pedras dos ribeiros porque, então, te deleitarás no Todo-Poderoso e levantarás o teu rosto para Deus quando te abaterem, então, tu dirás: Haja exaltação! E Deus salvará ao humilde ainda hoje a minha queixa está em amargura; a violência da minha praga mais se agrava do que o meu gemido com boa ordem exporia ante ele a minha causa e a minha boca encheria de argumentos porventura, segundo a grandeza de seu poder contenderia comigo? Não; antes, cuidaria de mim eis que, se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo nas suas pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho e não me desviei dele mas, se ele está contra alguém, quem, então, o desviará? O que a sua alma quiser, isso fará por isso, me perturbo perante ele; e quando isto considero, temo-me dele porquanto não fui desarraigado antes das trevas, nem encobriu a escuridão o meu rosto há os que até os limites removem; roubam os rebanhos e os apascentam desviam do caminho os necessitados; e os miseráveis da terra juntos se escondem no campo, segam o seu pasto e vindimam a vinha do ímpio pelas correntes das montanhas são molhados e, não tendo refúgio, abraçam-se com as rochas dentro dos seus muros fazem o azeite; pisam os lagares e ainda têm sede eles estão entre os que se opõem à luz; não conhecem os seus caminhos e não permanecem nas suas veredas assim como os olhos do adúltero aguardam o crepúsculo, dizendo: Não me verá olho nenhum, e oculta o rosto, porque a manhã, para todos eles, é como sombra de morte; porque, sendo conhecidos, sentem os pavores da sombra da morte a madre se esquecerá deles, os vermes os comerão gostosamente; nunca mais haverá lembrança deles, e a iniquidade se quebrará como a árvore até aos poderosos arrastam com a sua força; se eles se levantam, não há vida segura por um pouco se alçam e logo desaparecem; são abatidos, encerrados como todos os outros e cortados como as pontas das espigas com ele estão domínio e temor; ele faz paz nas suas alturas como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher? E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um bicho! Como ajudaste aquele que não tinha força e sustentaste o braço que não tinha vigor! Para quem proferiste palavras? E de quem é o espírito que saiu de ti? O inferno está nu perante ele, e não há coberta para a perdição prende as águas em densas nuvens, e a nuvem não se rasga debaixo delas as colunas do céu tremem e se espantam da sua ameaça pelo seu Espírito ornou os céus; a sua mão formou a serpente enroscadiça vive Deus, que desviou a minha causa, e o Todo-Poderoso, que amargurou a minha alma não falarão os meus lábios iniquidade, nem a minha língua pronunciará engano à minha justiça me apegarei e não a largarei; não me remorderá o meu coração em toda a minha vida porque qual será a esperança do hipócrita, havendo sido avaro, quando Deus lhe arrancar a sua alma? Ensinar-vos-ei o que é concernente à mão de Deus, e não vos encobrirei o que está com o Todo-Poderoso eis qual será, da parte de Deus, a porção do homem ímpio e a herança que os tiranos receberão do Todo-Poderoso: Os que ficarem dele, na morte serão enterrados, e as suas viúvas não chorarão ele as aparelhará, mas o justo as vestirá, e o inocente repartirá a prata pavores se apoderam dele como águas; de noite, o arrebatará a tempestade e Deus lançará isto sobre ele e não o poupará; irá fugindo da sua mão o ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o metal trasborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão as suas pedras são o lugar da safira e têm pós de ouro nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido o homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por jóia de ouro fino de onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus quando prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! Como era nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda; quando lavava os meus passos em manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite; os moços me viam e se escondiam; e os idosos se levantavam e se punham em pé; ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; a bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva eu era o olho do cego e os pés do coxo; e quebrava os queixais do perverso e dos seus dentes tirava a presa a minha honra se renovava em mim, e o meu arco se reforçava na minha mão acabada a minha palavra, não replicavam, e minhas razões destilavam sobre eles; se me ria para eles, não o criam e não faziam abater a luz do meu rosto; de que também me serviria a força das suas mãos, força de homens cuja velhice esgotou-lhes o vigor? Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram raízes dos zimbros para habitarem nos barrancos dos vales e nas cavernas da terra e das rochas eram filhos de doidos e filhos de gente sem nome e da terra eram expulsos porque Deus desatou a sua corda e me oprimiu; pelo que sacudiram de si o freio perante o meu rosto desbaratam-me o meu caminho; promovem a minha miséria; uma gente que não tem nenhum ajudador sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha honra, e como nuvem passou a minha felicidade de noite, se me traspassam os meus ossos, e o mal que me corrói não descansa clamo a ti, mas tu não me respondes; estou em pé, mas para mim não atentas levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele e derretes-me o ser mas não estenderás a mão para um montão de terra, se houver clamor nele na sua desventura? Todavia, aguardando eu o bem, eis que me veio o mal; e, esperando eu a luz, veio a escuridão irmão me fiz dos dragões, e companheiro dos avestruzes pelo que se tornou a minha harpa em lamentação, e a minha flauta, em voz dos que choram porque qual seria a parte de Deus vinda de cima, ou a herança do Todo-Poderoso desde as alturas? Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos? (pese-me em balanças fiéis, e saberá Deus a minha sinceridade); então, semeie eu, e outro coma, e seja a minha descendência arrancada até à raiz porque isso seria uma infâmia e delito, pertencente aos juízes se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo, aquele que me formou no ventre não o fez também a ele? Ou não nos formou do mesmo modo na madre? Ou sozinho comi o meu bocado, e o órfão não comeu dele se os seus lombos me não abençoaram, se ele não se aquentava com as peles dos meus cordeiros; então, caia do ombro a minha espádua, e quebre-se o meu braço desde o osso se no ouro pus a minha esperança ou disse ao ouro fino: Tu és a minha confiança; se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, caminhando gloriosa; se me alegrei da desgraça do que me tem ódio, e se eu exultei quando o mal o achou se a gente da minha tenda não disse: Ah! Quem se não terá saciado com a sua carne! Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio, ah! Quem me dera um que me ouvisse! Eis que o meu intento é que o Todo-Poderoso me responda e que o meu adversário escreva um livro se a minha terra clamar contra mim, e se os seus regos juntamente chorarem; por trigo me produza cardos, e por cevada, joio. Acabaram-se as palavras de Jó e acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus, Eliú, porém, esperou para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele e respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita, e disse: Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; arreceei-me e temi de vos declarar a minha opinião na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso os faz sábios eis que aguardei as vossas palavras, e dei ouvidos às vossas considerações, até que buscásseis razões pelo que não digais: Achamos a sabedoria, Deus o derribou, e não homem algum estais pasmados, não respondeis mais, faltam-vos as palavras também eu responderei pela minha parte; também eu declararei a minha opinião falarei e respirarei; abrirei os meus lábios e responderei por que não sei usar de lisonjas; em breve me levaria o meu Criador eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar o Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida eis que vim de Deus, como tu; do lodo também eu fui formado na verdade, tu falaste aos meus ouvidos; e eu ouvi a voz das tuas palavras; dizias: Põe no tronco os meus pés e observa todas as minhas veredas por que razão contendes com ele? Porque ele não dá contas de nenhum dos seus feitos em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba; de modo que a sua vida abomina até o pão; e a sua alma, a comida apetecível e a sua alma se vai chegando à cova; e a sua vida, ao que traz morte então, terá misericórdia dele e lhe dirá: Livra-o, que não desça à cova; já achei resgate deveras, orará a Deus, que se agradará dele, e verá a sua face com júbilo, e restituirá ao homem a sua justiça eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei se não, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria ouvi vós, sábios, as minhas razões; e vós, instruídos, inclinai os ouvidos para mim o que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão e caminha em companhia dos que praticam a iniquidade, e anda com homens ímpios? Porque, segundo a obra do homem, ele lhe paga; e faz que cada um ache segundo o seu caminho quem lhe entregou o governo da terra? E quem dispôs a todo o mundo? Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó porventura, o que aborrecesse o direito governaria? E quererás tu condenar aquele que é justo e poderoso? Eles, num momento, morrem; e, até à meia-noite, os povos são perturbados e passam, e os poderosos são tomados sem mão não há trevas nem sombra de morte onde se escondam os que praticam a iniquidade Ele quebranta os fortes, sem que se possa inquirir, e põe outros em seu lugar Ele bate-lhes como ímpios que são à vista de quem os contempla; se ele aquietar, quem, então, inquietará? Se encobrir o rosto, quem, então, o poderá contemplar, seja para com um povo, seja para com um homem só? Na verdade, quem disse a Deus: Sofri, não pecarei mais; virá de ti como há de ser a recompensa, para que tu a desprezes? Faze tu, pois, e não eu, a escolha; que é, logo, o que sabes? Fala! Jó falou sem ciência; e às suas palavras falta prudência porque ao seu pecado acrescenta a transgressão; entre nós bate as palmas e multiplica contra Deus as suas razões tens por direito dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus? Eu te darei resposta, a ti e aos teus amigos contigo se pecares, que efetuarás contra ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria a um filho do homem que nos faz mais doutos do que os animais da terra e nos faz mais sábios do que as aves dos céus? Certo é que Deus não ouvirá a vaidade, nem atentará para ela o Todo-Poderoso mas agora, porque a sua ira ainda se não exerce, nem grandemente considera a arrogância espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus porque, na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que é sincero na sua opinião não deixa viver ao ímpio e faz justiça aos aflitos e, se estão presos em grilhões e amarrados com cordas de aflição, se o ouvirem e o servirem, acabarão seus dias em bem e os seus anos, em delícias e os hipócritas de coração amontoam para si a ira; e amarrando-os ele, não clamam por socorro ao aflito livra da sua aflição e, na opressão, se revela aos seus ouvidos mas tu estás cheio do juízo do ímpio; o juízo e a justiça te alcançam não suspires pela noite, em que os povos sejam tomados do seu lugar eis que Deus exalta com a sua força; quem ensina como ele? Lembra-te de engrandecer a sua obra que os homens contemplam eis que Deus é grande, e nós o não compreendemos, e o número dos seus anos não se pode calcular porventura, também se poderão entender a extensão das nuvens e os trovões da sua tenda? Porque por estas coisas julga os povos e lhes dá mantimento em abundância o que nos dá a entender o seu pensamento, como também aos gados, acerca do temporal que sobe atentamente ouvi o movimento da sua voz e o sonido que sai da sua boca depois disto, brama com grande voz, troveja com a sua alta voz; e, ouvida a sua voz, não tarda com estas coisas porque à neve diz: Cai na terra; como também ao aguaceiro e à sua forte chuva e as alimárias entram nos seus esconderijos e ficam nas suas cavernas também com a umidade carrega as grossas nuvens e esparge a nuvem da sua luz seja para correção, ou para a sua terra, ou para beneficência, que a faça vir porventura, sabes tu como Deus as opera e faz resplandecer a luz da sua nuvem? Ou de como as tuas vestes aquecem, quando do sul há calma sobre a terra? Contar-lhe-ia alguém o que tenho dito? Ou desejaria um homem que ele fosse devorado? O esplendor de ouro vem do norte; pois em Deus há uma tremenda majestade por isso, o temem os homens; ele não respeita os que são sábios no coração quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina, ou quem encerrou o mar com portas, quando trasbordou e saiu da madre, e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondas empoladas?Para que agarrasse nas extremidades da terra, e os ímpios fossem sacudidos dela? E dos ímpios se desvia a sua luz, e o braço altivo se quebranta ou descobriram-se-te as portas da morte, ou viste as portas da sombra da morte? Para que as tragas aos seus limites, e para que saibas as veredas da sua casa? Ou entraste tu até aos tesouros da neve e viste os tesouros da saraiva, onde está o caminho em que se reparte a luz, e se espalha o vento oriental sobre a terra? Para chover sobre uma terra onde não há ninguém e no deserto, em que não há gente; de que ventre procede o gelo? E quem gera a geada do céu, ou poderás tu ajuntar as cadeias do Sete-estrelo ou soltar os atilhos do Órion? Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes dispor do domínio deles sobre a terra? Ou ordenarás aos raios que saiam e te digam: Eis-nos aqui? Quando se funde o pó numa massa, e se pegam os torrões uns aos outros? Quando se agacham nos covis e estão à espreita nas covas? Contarás os meses que cumprem ou sabes o tempo do seu parto? Seus filhos enrijam, crescem com o trigo, saem, e nunca mais tornam para elas ao qual dei o ermo por casa e a terra salgada, por moradas? O que descobre nos montes é o seu pasto, e anda buscando tudo que está verde ou confiarás nele, por ser grande a sua força, ou deixarás a seu cargo o teu trabalho? Bate alegre as asas o avestruz, que tem penas de cegonha; e se esquece de que algum pé os pode pisar, ou de que podem calcá-los os animais do campo porque Deus o privou de sabedoria e não lhe repartiu entendimento ou espantá-lo-ás, como ao gafanhoto? Terrível é o fogoso respirar das suas ventas ri-se do temor, e não se espanta, e não torna atrás por causa da espada sacudindo-se e removendo-se, escarva a terra e não faz caso do som da buzina ou voa o gavião pela tua inteligência, estendendo as suas asas para o sul? Dali, descobre a presa; seus olhos a avistam desde longe porventura, o contender contra o Todo-Poderoso é ensinar? Quem assim argui a Deus, que responda a estas coisas eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca então, o Senhor respondeu a Jó desde a tempestade e disse: Porventura, também farás tu vão o meu juízo ou me condenarás, para te justificares? Derrama os furores da tua ira, e atenta para todo soberbo, e abate-o esconde-os juntamente no pó; ata-lhes os rostos em oculto contempla agora o beemote, que eu fiz contigo, que come erva como o boi quando quer, move a sua cauda como cedro; os nervos da suas coxas estão entretecidos em verdade, os montes lhe produzem pasto, onde todos os animais do campo folgam as árvores sombrias o cobrem com a sua sombra; os salgueiros do ribeiro o cercam podê-lo-iam, porventura, caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz? Podes pôr uma corda no seu nariz ou com um espinho furarás a sua queixada? Fará ele concertos contigo, ou o tomarás tu por escravo para sempre? Os teus companheiros farão dele um banquete, ou o repartirão entre os negociantes? Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja e nunca mais tal intentarás quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu quem descobriria a superfície da sua veste? Quem entrará entre as suas queixadas dobradas? As suas fortes escamas são excelentíssimas, cada uma fechada como com selo apertado umas às outras se ligam; tanto aderem entre si, que não se podem separar do seu nariz procede fumaça, como de uma panela fervente, ou de uma grande caldeira no seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer o seu coração é firme como uma pedra e firme como a mó de baixo se alguém lhe tocar com a espada, essa não poderá penetrar, nem lança, dardo ou flecha as pedras atiradas são para ele como arestas, e ri-se do brandir da lança as profundezas faz ferver, como uma panela; torna o mar como quando os unguentos fervem na terra, não há coisa que se lhe possa comparar, pois foi feito para estar sem pavor bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu ensina-me por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura; porque vós não falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó então, vieram a ele todos os seus irmãos e todas as suas irmãs e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e cada um, um pendente de ouro também teve sete filhos e três filhas e em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos então, morreu Jó, velho e farto de dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário